"Horas antes de eu morrer, a minha mãe tinha pendurado no frigorifico um desenho feito por Buckley. No desenho, uma grossa linha azul separava o ar da terra. Nos dias a seguir, vi a minha familia andar de um lado para o outro diante daquele desenho e fiquei convencida de que a grossa linha azul era um sitio real - uma zona intermédia onde o horizonte dos céus se encontrava com o da terra. E desejei ir para lá, para o azulão do lápis de cor, para o azul, para o firmamento"
Excertos:
"Dentro do globo de neve em cima da secretária do meu pai havia um pinguim com um cachecol às riscas encarnadas e brancas. Quando eu era pequena, o meu pai sentava-me ao colo e pegava no globo de neve. Punha-o de pernas para o ar, para a neve se juntar na parte de cima, e depois endireitava-o de repente. Ficávamos os dois a ver a neve cair lentamente à volta do pinguim. Eu costumava pensar que ele estava sozinho lá dentro e tinha pena dele. Um dia, falei nisso ao meu pai e ele disse: "Nao te preocupes, Susie, porque ele está fechado num mundo perfeito"
(pag. 7)
"Na manhã de 7 de Dezembro, a Ruth queixou-se à mãe de um sonho demasiado real para ser um sonho. Quando a mãe lhe perguntou o que ela queria dizer com aquilo, ela respondeu:
- Ia a atravessar o parque de estacionamento e, de repente, vi um fantasma a correr do campo de futebol em direcção a mim.
A sra Connors continou a mexer a papa de aveia, enquanto a filha gesticulava com os seus longos dedos magros, dedos que tinha herdado do pai.
- Era do sexo feminino, isso senti eu - continuou a Ruth - Elevou-se do campo. Tinha os olhos vazios e um véu branco a cobrir-lhe o corpo, fino como gaze. Vi-lhe a cara através dele, o nariz, os olhos, as faces e o cabelo."
(Cap. 3 - pag 34)
"- Costumas pensar nela? - perguntou ele.
Ficaram de novo calados.
- Constantemente - respondeu a Ruth, e eu senti um arrepio pelas costas abaixo - Ás vezes penso que ela tem sorte. Eu detesto esta terra.
- Eu também - disse o Ray - Mas já vivi noutros sitios. Este é só um inferno temporário, não é para sempre.
- Não estás a querer dizer...
- Ela está no céu, se acreditarmos nessa coisa.
- Tu não acreditas?
- Não me parece, não.
- Eu acredito - afirmou a Ruth - Não na porcaria dos anjinhos com asas e tudo, mas acredito que existe um céu.
- Ela está feliz?
- Se é o céu, claro!
- Mas o que significa isso?
O chá estava gelado e já tinha soado o primeiro toque para as aulas. A Ruth sorriu para dentro da chávena.
- Bom, como diria o meu pai, significa que ela já está fora desta merda."
(Cap. 6 - pag. 69)
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