Com Wilt, os leitores portugueses ficam a conhecer Tom Sharpe, o mais corrosivo e apreciado humoristas ingleses contemporâneos.
Livro supreendente, completamente desconcertante, mas que agarra o leitor até ao fim, sem deixar qualquer hipotese de fuga.
Excertos:
"Nos dias maus, nada corria bem. (...) Nesses dias Wilt dava, em geral, um passeio maior como cão, fazendo uma paragem na Ferry Path Inn, e passava uma noite péssima, a levantar-se a ir à casa de banho, anulando, assim, o poder de limpeza do Harpic que Eva espalhara pela sanita e dando-lhe um bom pretexto para voltar a apontar os seus erros na manhã seguinte:
- Que diabo queres tu que eu faça? - perguntara-lhe ele, depois de uma dessas noites. - Se puxo o autoclismo, resmungas porque te acordo, se não puxo, de manhã dizes que está um nojo.
- E está mesmo. Aliás, não precisas de retirar todo o Harpic dos lados. Julgas que ainda nao te vi. Pois vi. Fazes os possiveis para que saia todo à volta. Fazes de propósito, mesmo de propósito.
- Se puxasse o autoclismo, ele seria todo eliminado na mesma e, ainda por cima, acordar-te-ia - respondeu Wilt, plenamente consciente de que se tornara para ele um hábito eliminar o Harpic. Tinha uma certa raiva ao produto.
- Porque não podes esperar até de manhã? E, além disso, é bem-feito - continuou ela, prevendo qual seria a resposta óbvia - por beberes tanta cerveja. O que tu devias fazer era levar Clem a passear e não pores-te a emborcar cerveja naquele bar horrivel.
- Mijar ou não mijar, eis a questão - disse Wilt servindo-se de All-Brand - Que queres que eu faça? Dê um nó na pila?
- Não me fazia diferença nenhuma se desses - disse Eva num tom azedo.
- Mas fazia-me a mim, obrigado.
- Estava a falar sobre a nossa vida sexual, sabes muito bem.
- Ah sim... - exclamava Wilt.
Mas isso era nos dias maus."
(Cap. 2 - pag.16)
"- E o que aconteceu depois?
- Além de ter fechado a porta à chave e se ter deitado na cama, de pernas abertas e me ter pedido para lha espetar, e me ter ameaçado com um broche, não aconteceu nada - disse Wilt.
Peter Braintree olhou para ele com incredulidade.
- Nada? - perguntou - Nada? Refiro-me ao que fizeste.
- Fui ambíguo.
- Não sabia que aquilo agora se chamava assim - respondeu Braintree - Vai lá acima com a Sra. Pringsheim e és ambíguo, enquanto ela está deitada na cama, de pernas abertas, e agora queres saber por que razão Eva não voltou para casa? Se calhar foi consultar um advogado, a fim de meter imediatamente uma acção de divórcio contra ti.
- Mas garanto-te que não comi a gaja - protestou Wilt - Disse-lhe para impingir a passarinha a outro."
(Cap. 5 - Pag. 56)
"- E para onde é que a Sra. Wilt foi?
- Aí é que está o problema. Não sei.
- Não sabe?
- Não, fracamente não sei - respondeu Wilt.
- Não lhe disse para onde ia?
- Não. Não estava em casa quando eu voltei.
- Não deixou uma mensagem ou algo do género?
- Deixou- disse Wilt - Efectivamente deixou.
- Muito bem. Vamos até lá a casa e damos uma olhadela a essa mensagem.
- Receio que isso não seja possivel - disse - Deitei-a fora.
- Deitou-a fora? - perguntou o inspector - Como é que deitou fora?
Wilt olhou pateticamente para o estenógrafo.
- Para dizer a verdade, limpei o rabo a ela.
O inspector Flint olhou para ele com uma expressão feroz.
- O senhor fez o quê?
- Bem, não havia papel higiénico na retrete e eu... - parou. O inspector acendeu outro cigarro."
(Cap. 9 , pag. 108)
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