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Crowley (Demónio) e Aziráfalo (Anjo) são amigos e adoram o nosso mundo e como tal não estando muito contentes com a história de que tem de haver um apocalipse. A conversa passasse entre os dois depois de uns copos bem bebidos
"- Mas pensa nisto - insistiu Crowley, incansável. - Tu sabes o que é a eternidade? Sabes o que é a eternidade? Ouve bem, sabes o que é a eternidade? Há uma grande montanha, tás a ver, com um quilometro de altura, no fim do universo, e uma vez em cada mil anos vem um passarinho...
- Qual passarinho? - interrompeu Aziráfalo, desconfiado.
- Esse passarinho de que eu estou a falar. E de mil em mil anos...
- O mesmo passarinho de mil em mil anos?
Crowley hesitou. Depois, confirmou:
- S'senhor.
- Um passarinho velho como o raio, então.
- Tá bem. Mas então, de mil em mil anos, esse passarinho voa...
- ...coxeia...
- ... voa o caminho todo até a essa montanha e afia o bico...
- Aguenta aí. Isso não pode ser. Entre isto aqui e o fim do Universo há montes de... - E o anjo agitou expansivamente, embora pouco seguramente, um braço. - Montes de tralha, meu rapaz.
- Mas ele chega lá, de qualquer maneira - perseverou Crowley.
- Mas como?
- Isso não interessa!
- Podia usar uma nave espacial - sugeriu o anjo.
Crowley cedeu um pouco.
- Pois sim. Como queiras. Seja como for. Esse passarinho...
- Só que estamos a falar do fim do Universo. De maneira que tinha de ser uma dessas naves espaciais em que os descendentes é que chegavam ao outro lado. Tens de dizer aos teus descendentes, é o que se diz, Quando chegares à Montanha, vais ter de... - hesitou um pouco. - O que é que têm de fazer?
- Afiar o bico na montanha - lembrou Crowley. - E depois voltar para trás...
- ... na nave espacial...
- E passados outros mil anos, vai e faz outra vez o mesmo. - finalizou Crowley a toda a pressa.
Houve um momento de embriagado silêncio.
- Parece-me esforço de mais, só para afiar o bico.
- Escuta - disse Crowley, deviando a conversa com urgência. - A questão é que, quando o passarinho tiver gasto toda a montanha, precisamente nesse momento...
Aziráfalo abriu a boca. Crowley tinha a certeza que que o anjo ia apresentar uma questão acerca da dureza relativa dos bicos das aves e do granito das montanhas, de modo que lançou de imediato:
- ...nesse momento ainda não terás acabado de ver Musica no Coração.
Aziráfalo ficou como petrificado.
- E vais adorar - prosseguiu Crowley, inflexivel. - É que vais mesmo.
- Meu rapaz...
- Não vais ter escolha.
- Escuta...
- O Paraíso tem uma total falta de gosto.
- Olha cá...
- E nem um único restaurante de sushi.
Uma expressão de dor contraiu o rosto do anjo, que ficara subitamente muito sério."
1 comentário:
Li este livro há alguns anos já. Pouco tempo depois de ser editado...Adorei e continua a ser um dos meus livros preferidos até á data. Que poderia ser a união de Pratchett e Gaiman senão perfeita? ;)
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