terça-feira, 30 de junho de 2009

Bons Augúrios - Excertos

Geralmente quando coloco os excertos dos livros que vou lendo escolho diversos parágrafos de diferentes páginas do livro. Desta vez decidi pôr uma página inteira apenas. Pelo que aqui se passa já dá para terem a percepção do estilo do livro.


Crowley (Demónio) e Aziráfalo (Anjo) são amigos e adoram o nosso mundo e como tal não estando muito contentes com a história de que tem de haver um apocalipse. A conversa passasse entre os dois depois de uns copos bem bebidos



"- Mas pensa nisto - insistiu Crowley, incansável. - Tu sabes o que é a eternidade? Sabes o que é a eternidade? Ouve bem, sabes o que é a eternidade? Há uma grande montanha, tás a ver, com um quilometro de altura, no fim do universo, e uma vez em cada mil anos vem um passarinho...
- Qual passarinho? - interrompeu Aziráfalo, desconfiado.
- Esse passarinho de que eu estou a falar. E de mil em mil anos...
- O mesmo passarinho de mil em mil anos?
Crowley hesitou. Depois, confirmou:
- S'senhor.
- Um passarinho velho como o raio, então.
- Tá bem. Mas então, de mil em mil anos, esse passarinho voa...
- ...coxeia...
- ... voa o caminho todo até a essa montanha e afia o bico...
- Aguenta aí. Isso não pode ser. Entre isto aqui e o fim do Universo há montes de... - E o anjo agitou expansivamente, embora pouco seguramente, um braço. - Montes de tralha, meu rapaz.
- Mas ele chega lá, de qualquer maneira - perseverou Crowley.
- Mas como?
- Isso não interessa!
- Podia usar uma nave espacial - sugeriu o anjo.
Crowley cedeu um pouco.
- Pois sim. Como queiras. Seja como for. Esse passarinho...
- Só que estamos a falar do fim do Universo. De maneira que tinha de ser uma dessas naves espaciais em que os descendentes é que chegavam ao outro lado. Tens de dizer aos teus descendentes, é o que se diz, Quando chegares à Montanha, vais ter de... - hesitou um pouco. - O que é que têm de fazer?
- Afiar o bico na montanha - lembrou Crowley. - E depois voltar para trás...
- ... na nave espacial...
- E passados outros mil anos, vai e faz outra vez o mesmo. - finalizou Crowley a toda a pressa.
Houve um momento de embriagado silêncio.
- Parece-me esforço de mais, só para afiar o bico.
- Escuta - disse Crowley, deviando a conversa com urgência. - A questão é que, quando o passarinho tiver gasto toda a montanha, precisamente nesse momento...
Aziráfalo abriu a boca. Crowley tinha a certeza que que o anjo ia apresentar uma questão acerca da dureza relativa dos bicos das aves e do granito das montanhas, de modo que lançou de imediato:
- ...nesse momento ainda não terás acabado de ver Musica no Coração.
Aziráfalo ficou como petrificado.
- E vais adorar - prosseguiu Crowley, inflexivel. - É que vais mesmo.
- Meu rapaz...
- Não vais ter escolha.
- Escuta...
- O Paraíso tem uma total falta de gosto.
- Olha cá...
- E nem um único restaurante de sushi.
Uma expressão de dor contraiu o rosto do anjo, que ficara subitamente muito sério."

1 comentário:

Anónimo disse...

Li este livro há alguns anos já. Pouco tempo depois de ser editado...Adorei e continua a ser um dos meus livros preferidos até á data. Que poderia ser a união de Pratchett e Gaiman senão perfeita? ;)