quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O HERDEIRO DE OZ - excertos

"-A pele precisa de cuidados por causa das feridas, por isso não podemos imobiliza-lo por completo.
'Suponho que não', pensou a monja Superiora.
Os seus olhos já não eram o que tinham sido. Inclinou-se para a frente e olhou atentamente para as linhas onde as pálperas superiores e inferiores de Liir se juntavam. Depois, ergueu-lhe a mão esquerda e examinou-lhe as unhas. A pele dele estava pegajosa, como a casca de um queijo de camalo dos vales, e as unhas, rachadas.
- Retirem-lhe o pano que lhe cinge as partes.
A irmã Médica e a irmã Boticária trocaram um olhar, mas fizeram o que lhes era pedido.
A monja Superiora tinha poucos motivos para se tornar uma perita na anatomia masculina, mas não mostrou qualquer sinal de prazer ou repulsa. Deslocou cuidadosamente o membro de um lado e para o outro e depois levantou os testículos.
- Devia ter trazido os meus óculos de leitura - murmurou"
(p. 37)

"- Olhem bem para nós: um homem de palha, um homem de lata, um Leão com um laço na cabeça como se fosse um cachorrinho! Uma rapariga, um rapaz, um rafeiro com mau feitio. Como poderiam sequer pensar que estamos do lado das autoridades? Somos demasiado...
- Estranhos? - perguntou Dorothy.
- Carentes de camuflagem? - inquiriu o Leão.
- Fabulosos? - propôs o Lenhador de Lata.
- Ridiculos? - sugeriu Liir.
- Tudo isso - decidiu o Espantalho."
(p. 77)

"- Muito bem, fique com a vassoura e queime-a - respondeu ele. - Tome a capa e queime-a também, ou então faça dela um cilício e use-a por debaixo dos seus elegantes vestidos de baile. Não importa. Deve-me uma forma de chegar a Nor e de a tirar donde quer que esteja; pode pedir o que quiser. Eu volto e servi-la-ei como servi a Bruxa. Não tenho outros planos para a minha vida uma vez resolvida a questão de Nor.
Glinda desfaleceu no banco mais próximo e soluçou."
(p. 116)

"Somos sequências de conversões químicas agindo de forma conversa, um torcido de genes agindo de forma retorcida; somos mechas de perversões neuróticas agindo de forma perversa. E não há nada a fazer em relação a isso. E não há nada a fazer em relação a isso."
(p. 168)

"As pessoas dizem 'Meu Deus' a toda a hora, mas habitualmente querem dizer 'ora bolas'"

(p. 175)


"Uma noite tentou cortar o cabelo, pois tombava-lhe para os olhos. A faca do exército ficaram romba de descascar raiz-espinheira, e a sua tentativa para a afiar numa pedra tinha sido infrutífera. Não conseguindo cortá-lo, largou a faca e começou a puxá-lo, arrancando-o pelas raízes até o couro cabeludo começar a pingar-lhe sangue para os olhos. Achou que o sangue poderia refrescar os canais lacrimais rotos e, por um instante, imaginou alfo como alívio - alívio -, mas este não surgiu."
(p. 234)


" - Criar uma memória? Para criar uma memória teria de plantar-se... não sei bem. Também quem é que quer criar memórias?
- Vou facilitar. Criar uma boa memória. Uma memória feliz.
Ele encolheu os ombros, indicando-lhe que continuasse.
- Não interessa o que plantas, mas tens de plantar com amor - concluiu ela."
(p. 270)


"A criatura fez uma pequena pausa e rodou os olhos sem levantar a cabeça, fitando-o sob o seu sobrolho de tigre.
- Para onde estás a olhar? - rosnou ele suavemente.
Um Tigre. Um Animal falante, preso como um cão de guarda, para assustar os intrusos.
Liir sentiu vontade de desatar a correr, mas ignorar a pergunta beligerante do Tigre seria sugerir uma condescendência que ele não sentia. E Elphaba teria tratado daquilo com uma perna às costas.
- Estou a olhar para um Tigre enorme - respondeu ele por fim.
- Essa é a resposta correcta - ronronou o Tigre. - Ou és esperto ou tens sorte.
- Sou apenas corajoso - disse Liir. - Tenho de ser."
(p. 300)


"- Tens a certeza que consegues voar nesse estado? - conseguiu perguntar Trism passado algum tempo.
- Que estado é esse? Estive assim toda a minha vida. - respondeu Liir. - É o unico estado que conheço. Amor amargo, solidão, desprezo pela corrupção, esperança cega. É aí que vivo, num estado permanente de luto. Isto não é novo."
(p. 358)


"A seguir Liir pensou em meia dúzia de outras crises. 'Ela sabe que o amei. Que o amo. Que ele me ama? Que ele a ama?'
Que o ama?
Que raio era aquelo verbo amar, que funcionava em qualquer direcção?"
(p. 381)

2 comentários:

Alice disse...

já tive este livro na mão várias vezes por por uma ou outra razão nunca o comprei. tenho curiosidade mas nem sequer conheço ninguém que já o tenha lido. é bom?
bj e boas leituras

ClaudiaV disse...

Olá Alice,

Para leres este livro e gostares tens de ter lido primeiro "A Bruxa de OZ" pois este é a continuação.

Eu gostei muito da "A Bruxa de Oz" por isso aconselho vivamente.

Em relação ao "Herdeiro de Oz" a unica coisa que não gostei foi de não ter tido mais história. Algumas personagens ficou-se apenas pela especulação do que terá acontecido com elas e não pelo que de facto aconteceu.

O que também é verdade é que o ano passado saiu em inglês a continuação desta Saga (que em inglês se chama Wicked), com o livro "A Lion Among Us". Pode ser que lá esteja a continuação.

Mas esta é apenas a minha opinião. A Diana, que o leu o mês passado disse:
"“Gostei muito, não achei que ficou atrás da "Bruxa De OZ". Começa exactamente onde o anterior terminou e relata o caminho de Liir, a criança que acompanhou no final a Elphaba. Os ideais bda Elphaba estão sempre presentes o que une os dois livros e o final é muito bom!!”